terça-feira, 9 de agosto de 2011

Jornalista Ismael Machado lança livro de reportagens. Confira a entrevista.



Mestre em literatura, vascaíno e torcedor do Paysandu. O jornalista Ismael Machado, ou (Bill para os mais chegados), não gosta de rótulos, mas é um típico sagitariano, daqueles que sempre se apaixonam e investem nisso. A reportagem é o maior exemplo dessas investidas. Há 20 anos em busca das melhores fontes, notícias, histórias, Ismael já foi repórter de televisão e cantor de banda de rock, escreveu para importantes jornais nacionais como “O Globo”,  e hoje é um dos principais nomes do Diário do Pará. Pai de dois filhos, o turismólogo de formação nunca abandou o jornalismo, profissão que seu primeiro filho também escolheu para seguir, e nisso resolveu juntar algumas de suas grandes experiências na labuta diária de “fazer matérias”, no livro “Sujando os Sapatos - O caminho Diário da reportagem”, que será lançado no dia 13 de agosto, no Instituto de Artes do Pará - IAP. Dono de um texto fino e instigante, o também professor Ismael Machado, concedeu entrevista ao Guiart, onde fala de livros, listas, e principalmente jornalismo.
Por Dani Franco #

Dani - Teu terceiro livro é bem diferente dos dois primeiros. A meu ver o "Vapor Barato"  (primeiro) tinha algo como "eu quero ser o Caio Fernando Abeu quando crescer", já o segundo “Decibéis sob Mangueiras”, era uma necessidade de preencher a lacuna sobre o rock feito no Pará. Podemos dizer que este é a consequencia do teu processo profissional?

Bill - O primeiro é um livro que começou a ser escrito ainda na adolescência. Digamos que foi um acerto de contas geracional. Tem influências fortíssimas de Caio Fernando Abreu (de resto meu escritor preferido). E é um livro de ficção. O segundo, Decibéis Sob Mangueiras, não teve a ideia de preencher lacunas. Ele basicamente foi um registro de uma época importante aqui para Belém. Tem um olhar mais jornalístico, baseado em uma serie de livros que já li sobre música. O que os dois têm em comum é que, na minha concepção, eles conseguem preencher parte de minha própria história de vida. Acho importante manter esse foco. Ao registrarmos nossa história, nossos processos de crescimento e conhecimento, estamos, de certa forma, falando de aspectos maiores.
 Esse terceiro é estritamente jornalístico. São reportagens já publicadas, inseridas naquilo que, por falta de uma definição maior e melhor, chamamos de jornalismo literário. É um livro que tem um olhar voltado mais para a questão de registro jornalístico. Pode ser bem aproveitado por alunos de Jornalismo, penso eu. Mas como os dois anteriores, é um registro pessoal. De um período de vida. Tudo faz parte.

Dani - Livro de jornalista, que escreve sobre suas aventuras profissionais, vira leitura obrigatória pra estudantes de comunicação. Até onde me lembro, aqui no Pará apenas o Lúcio Flávio Pinto fez isso de forma interessante. Como tu encaras essa possível nova colocação na vida acadêmica? O professor Ismael Machado pensou principalmente em seus alunos ou livro foi uma necessidade particular?

Bill - As duas coisas. O Lúcio transforma as excelentes discussões dele do Jornal Pessoal, em um registro mais definitivo quando transfere para um livro. Mas o que me motivou a pensar num livro de reportagens foram três coisas: a leitura de um livro constrangedor, chamado 'Direto da Selva', do Kléster Cavalcante. A experiência como professor  (na FEAPA), e a intenção particular de deixar um registro também. 
Explicando melhor. Todo jornalista do sul e do sudeste, depois que passa uma chuva aqui, escreve um livro sobre a Amazônia. Alguns bons. Outros, muito ruins. Mas nós não fazemos isso. Desde o período que trabalhei no Globo (cinco anos), o período anterior em O Liberal e esse momento atual no Diário do Pará, sempre viajei muito. No Diário, meu estilo, se é que posso chamar assim o jeito que escrevo, chamou a atenção das pessoas. O reconhecimento é legal. Então, pensando nisso, achei que dava para contribuir um pouco com a literatura jornalística. Bem ou mal, é um profissional daqui de Belém, com reportagens locais, mostrando que aqui se faz, sim, reportagens. Tem essa ideia por trás também. 

Dani - Eu tinha acabado de ler o Diário do Pará, onde apareces fazendo propagando do grupo, quando recebi teu e-mail falando do livro novo. A mim, que te conheci sendo uma pessoa absurdamente crítica, pareceu estranho, e na hora pensei "até o Bill se rendeu ...". Como tu consegues administrar tuas convicções pessoais e hoje ser visto como representante de um jornal ideologicamente político? O caráter deixa de ser um conflito para o jornalista se enquadrar no mercado?

Bill - Depende do que consideramos representante de um jornal ideologicamente político. Penso que a questão é um pouco mais profunda do que isso. Todos os jornais, TVs, revistas e assessorias que trabalhei tinham seus próprios interesses. Isso não quer dizer necessariamente que esses interesses sejam os teus. Aos poucos, fui construindo uma 'carreira', que me fez ficar bem à vontade no que faço. 
Estou desde 2008 no Diário do Pará. Tinha trabalhado anteriormente em 98, mas foi muito rápido. Dessa vez vim a convite do Gerson Nogueira. Nas conversas que tivemos antes de eu topar trabalhar no jornal, pedi a ele que tivesse a possibilidade de exercer um texto mais livre, mais humanizado, mais literário até. Ele gostou da ideia e, posso dizer, na boa, que isso modificou um pouco a maneira como se pensa hoje reportagem no Diário. A busca por personagens e um texto mais humanizado tornaram-se uma meta aqui. Mas também dentro desse contexto pude evitar algo que não gosto. Matérias com políticos. É raro me verem com esse tipo de pauta. Não faz parte do meu estilo. Tenho no Diário, uma abertura que jamais tive em outro veículo de comunicação. Isso é um ponto a favor. Como repórter especial, posso dizer que 80% pelo menos das minhas pautas são pensadas por mim mesmo. Então, penso que contribuo, de alguma forma, dentro de minhas próprias limitações  profissionais, intelectuais e humanas com algo positivo dentro do jornal.
     A publicidade a que você se refere, veio mais como uma homenagem até ao meu próprio trabalho do que algo tão de 'vendido'. É claro que é meio estranho me ver numa foto de propaganda, mas isso fica mais por conta de um estranhamento pessoal do que por outra coisa. Acho bacana, por exemplo, quando alguns repórteres mais jovens aqui do jornal, tomam meus textos como exemplos. Isso é mais importante pra mim.

Dani - Tu ficaste bem conhecido em Belém depois de voltar pra cá e escrever o livro sobre o rock local (Decibéis sob Mangueiras). Sabendo a vaidade ser comum a maioria dos nossos colegas, como tu lidaste com isso sem ganhar inimigos e sem limitar tua carreira ao jornalismo cultural?

Bill - Quem disse que não ganhei inimigos? (risos) Mas, brincadeiras à parte, o Decibéis causou estranhamento em algumas pessoas por dois motivos básicos. Primeiro, por ser o pioneiro. É o único livro que lida diretamente com o rock em Belém. Segundo, pelo que percebi, pelo próprio  fato de as pessoas, muitas delas, não estarem acostumadas com leituras de livros de rock. Isso era perceptível a mim quando vinham comentar determinadas passagens do livro. Mas a gente sabe também que aqui funciona muito a coisa da crítica ao feito. Já ouvi muito 'ah, eu faria melhor...', mas não fazendo. Isso é comum aqui. Esse livro novo vai originar comentários semelhantes, tenho certeza.
     Quanto ao Jornalismo Cultural, tenho modificado minha visão a respeito dele. Em Porto Velho, no início dos anos 90, posso dizer com toda tranquilidade, que criei a ideia de jornalismo cultural nos jornais de lá. Não havia 'segundos cadernos'. Foi um período legal. Recentemente estive conversando com a jornalista Luciana Medeiros sobre isso e com uma estudante chamada Karina, que foi me entrevistar para um TCC. A discussão que faço hoje é sobre o que é jornalismo cultural atualmente? É jornalismo de entretenimento. Não há muitas reportagens, ensaios, críticas. Tornou-se jornalismo de agenda. Há ainda algo que me incomoda, que é o ranço paulista dos jovens jornalistas. Aquela coisa meio arrogante de parecer se incomodar em ser, no nosso caso, paraenses. Ou num âmbito maior, brasileiros. Jornalista cultural de Belém meio que parece desejar ter nascido em São Paulo, assim como jornalista cultural paulista pensa ser londrino ou novaiorquino. É chato isso. 


Dani - Certa vez ouvi de ti a crítica: "nos anos 80 todo jornalista queria ser fotógrafo, hoje todos querem ser cineastas", e agora estás estreando também no cinema (tem um roteiro no forno). Mudou tua visão sobre o cinema local, ou mudaste a ti mesmo?

Bill - Estreando no cinema é ótimo (risos). Não é bem assim. Fiz dois roteiros para documentários junto com o pessoal  do Festcine Amazônia. Co-dirigi outro, com o Jurandir Costa, de Porto Velho, que está em fase de edição. E agora estou debruçado em um documentário sobre o Pio Lobato. Tá engatinhando ainda. Mas é apenas um prolongamento de algumas áreas de interesse. Por exemplo, ando pensando em fazer uma exposição de fotografias. Tenho umas fotos bem legais. E já vi cada exposição...é como diz o escritor Reinaldo Moraes: se é pra fazer isso, eu também faço. 

# A jornalista Dani Franco é ex-estagiária de Ismael, de quem recebeu a paixão por Caio Fernando Abreu, Martha Medeiros, Alice Ruiz e tantos outros. 

Serviço
Lançamento do livro
“Sujando os Sapatos - O caminho Diário da reportagem”,
Do jornalista Ismael Machado
Data:  13 de agosto – sábado
Local:  Instituto de Artes do Pará – IAP
End.: Praça Justo Chermont, 236 - Nazaré (ao lado da Basílica)
Hora: 19h
Entrada Franca

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